POETAR
São diversos poemas e contos escritos e premiados ao longo dos anos.
Natal
A
data mais linda, segundo minhas lembranças, sempre foi o Natal. Mesmo que não
houvesse fartura à mesa e muitos poucos brinquedos para esperar à meia-noite do
dia 24 de dezembro.
Eu sempre amei o Natal, acredito que
já tinha uma queda por ele na barriga da minha mãe.
Ouvia o repicar do sino natalino bem
antes de dezembro, mas vivia no encantamento porque o final do ano era anúncio
da chegada do Natal.
Não tenho recordações sobre o fato
de acreditar ou não em Papai Noel, bastava saber que ele existia lá no Polo Norte
e essa informação me bastava. Eu era o retrato do conformismo e meu coração
festejava alegrias na esperança de ganhar uma boneca.
E eu sabia que meus pais não tinham
dinheiro para comprar a boneca, o que, hoje eu deduzo que encerra a questão de
acreditar ou não no Papai Noel: eu nunca escrevera uma carta ao bom velhinho
pedindo a boneca.
Mesmo assim, sem grandes comilanças
ou presentes, eu aguardava o Natal com brilho no olhar, a alma infantil era só ansiedade
ao ver a cidade enfeitada de luzes, matizes, famílias sorridentes e praças
decoradas de bolinhas de vidro coloridas.
Amava as noites que antecediam o
Natal; recordo com nostalgia os passeios pelas ruas repletas de pessoas em
alegre algazarra e as lojas entoavam canções natalinas que mexiam com meu
coração de criança.
Havia uma pequena lojinha escondida
em uma rua sem muitas luzes, mas a magia da vitrina com um burrinho vestido de
papai natalino ficou gravado na minha alma. Parávamos em frente à loja e o
encanto singelo daquela cena simbolizava a simplicidade de nossos natais.
Uma bola colorida, um quebra-cabeça,
um jogo de varetas e nos sentíamos felizes e gratos, pois sabíamos que não
havia condições de compras maiores ou mais caras. E isso nunca me levou à
revolta; o poder ter menos nunca me incitou à desesperança ou mágoa contra meus
pais.
Mas o amor pela boneca nunca me
abandonou e fui crescendo de idade em idade, todavia a criança que sonhava em
mim sempre esperou pela boneca.
E ela veio, eu quase adolescente,
linda e pequena, como um presente há anos esperado; como um presente há décadas
acalentado; como um presente há tempos imaginado. E ficou comigo até que me
considerei mocinha, quase como um troféu da minha esperança, fé e crença no
espírito natalino.
Nunca pensei muito sobre o
verdadeiro sentido do Natal, fui crescendo e compreendendo sobre Jesus e seus
ensinamentos de amor. Mas eu ainda amava o Natal; eu ainda guardava um carinho
inusitado pelo Papai Noel e toda a trajetória de São Nicolau.
Natal sempre me recordará momentos
de risos, visitas de parentes, passeios perfumados, luzes coloridas, crenças
renovadas...
Natal não morrerá nunca. Haverá
sempre uma menininha sonhando com sua boneca na véspera do Natal. E enquanto
existirem sonhos, haverá Natal.
5 de novembro de 2024
Imagem da Internet.
Meu poema em destaque
Poema publicado Revista Barbante
Novembro de 2024
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