Pesquisar este blog

sexta-feira, 4 de março de 2022

Metamorfose líquida - conto

 


A chuva cobrara presença. Lavara as calçadas, os postes, as paredes, o guarda-noturno lá na esquina. No silêncio da manhã que desabrochara, nem mesmo o bem-te-vi nos alegrara com sua cantilena.

            O gato Frufru virara super-herói e desafiara as poças d’água, em miados perversos e rancorosos. O céu cinzento se tornara moldura perfeita para o dia nascente coroado de caos líquido.

            O Manacá florido também tivera sua cota de sofrimento: despencara em lágrimas saudosas. Restara o desfolhar.

            O jardim antes aquarela se ressentira com o aguaceiro. Chorara folhas arrancadas e mortas.

             Se a natureza penara e vertia gotas opacas, o mesmo se poderia dizer dos meus pés, metidos em chinelas aguadas.

            O cenário se dissolvera em prantos de chuva. Sobrara a desolação.

            O frio e a tromba d’água compuseram sua sonata. Amargor líquido. Amargura cinza. As nuvens não eram risonhas, eram de algodão puído e velho.

            Deus, se o beija-flor desse o ar de sua graça e aquecesse minha alma com seu voejar... E a primavera me brindasse com uma taça de champagne!

            O céu já não seria mais sujo e desbotado, tingir-se-ia de rosa.

 

 

Dias - miniconto selecionado no Festival Digital de Literatura







** Miniconto selecionado em São Caetano do Sul - SP

Meu poema em destaque

Poema selecionado "Brumas"

  Poema selecionado Revista Bsrbante abril 2024