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segunda-feira, 19 de outubro de 2020

Canção

 


 


CANÇÃO


“De borco no barco. (de bruços no berço...) O braço é o barco. O barco é o berço. Abarco e abraço o berço e o barco. Com desembaraço embarco e desembarco. De borco no barco. (de bruços no berço...)”.

Através da leitura e do trabalho com poemas, em nossas escolas, ofertamos aos alunos a inigualável capacidade de sonhar: evocar situações já conhecidas, “quebrar” com a rotina das mesmices da arte de educar, propor à criança atividades que motivem a sair do “trivial” e abraçar o “irreal”...

Partindo dessa reflexão, tomamos como base o belíssimo e nostálgico poema “Canção”, de Cecília Meireles. O título já é bastante sugestivo e logo nos surgem imagens povoadas de lirismo e acalanto: nossas mães embalando-nos suavemente nos braços, ninando-nos amorosamente; o breve e suave murmúrio de seus lábios mansos, produzindo o som levíssimo de uma cantiga de ninar. A poetisa relembra, em seu poema, a nostalgia, o sonho e a suavidade do ato de embalar. Tudo isso vem justificado pelo ritmo cadenciado, embalador, com versos que possuem acentos nas mesmas sílabas: “de borco no barco (de bruços no berço)”.

Dessa forma, temos a presença da musicalidade, como se o embalo ganhasse vida em cada verso. É como se ouvíssemos, sentíssemos em nossa alma o ritmo de um embalo doce, meigo, quase oscilante... No jogo de palavras, brinca a poetisa, fazendo dos braços imaginários o barco a navegar; fazendo do próprio barco, o berço a balançar... Desse jogo interessante misturam-se e entrelaçam-se palavras do universo conhecido do espírito infantil: braço/barco; barco/berço. As imagens são fortes, vívidas, embaladas ao ritmo da canção.

Assim, no poema “Canção”, existe um eu que expressa o estado da alma: a lembrança, o sentimento de nostalgia, recordação de uma época de meninice, os embalos nos braços da mãe... Os embalos do berço a balançar... São lembranças, saudades, do abraço, do berço, da ação de abraçar, aninhar-se, um total “embarco” e “desembarco” do berço da infância. Então, a melodia que soa, a voz que sussurra, o ritmo que acaricia, nina, sustenta... “Doces saudades da infância!”.


Texto publicado na Revista Entrelinhas - Curso de Letras - Unisinos

 

 

 

 

 

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