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sábado, 31 de outubro de 2020

Travessia - poema selecionado

 





Luzes de espera

Lanternas aladas

Solidão opaca

Ruas negras

Amores cinza

Ventos mudos

Fantasmas

e noites sem lua...

 

Passagens

   travessias...

quinta-feira, 29 de outubro de 2020

Menininha

 



 

Perfumaram

os dias

da menina Rosaura

e espalharam minosas

lembranças

nos lençóis decorados

do ursinho Puff.


A infância,

pueril e cor-de-rosa,

beijou feito brisa

os cabelos encaracolados

e pintou flores

no vestido rendado

da garotinha.


O sol brincou

luz

e esconde-esconde

no riso

azul

da menina Rosaura.

segunda-feira, 19 de outubro de 2020

Canção

 


 


CANÇÃO


“De borco no barco. (de bruços no berço...) O braço é o barco. O barco é o berço. Abarco e abraço o berço e o barco. Com desembaraço embarco e desembarco. De borco no barco. (de bruços no berço...)”.

Através da leitura e do trabalho com poemas, em nossas escolas, ofertamos aos alunos a inigualável capacidade de sonhar: evocar situações já conhecidas, “quebrar” com a rotina das mesmices da arte de educar, propor à criança atividades que motivem a sair do “trivial” e abraçar o “irreal”...

Partindo dessa reflexão, tomamos como base o belíssimo e nostálgico poema “Canção”, de Cecília Meireles. O título já é bastante sugestivo e logo nos surgem imagens povoadas de lirismo e acalanto: nossas mães embalando-nos suavemente nos braços, ninando-nos amorosamente; o breve e suave murmúrio de seus lábios mansos, produzindo o som levíssimo de uma cantiga de ninar. A poetisa relembra, em seu poema, a nostalgia, o sonho e a suavidade do ato de embalar. Tudo isso vem justificado pelo ritmo cadenciado, embalador, com versos que possuem acentos nas mesmas sílabas: “de borco no barco (de bruços no berço)”.

Dessa forma, temos a presença da musicalidade, como se o embalo ganhasse vida em cada verso. É como se ouvíssemos, sentíssemos em nossa alma o ritmo de um embalo doce, meigo, quase oscilante... No jogo de palavras, brinca a poetisa, fazendo dos braços imaginários o barco a navegar; fazendo do próprio barco, o berço a balançar... Desse jogo interessante misturam-se e entrelaçam-se palavras do universo conhecido do espírito infantil: braço/barco; barco/berço. As imagens são fortes, vívidas, embaladas ao ritmo da canção.

Assim, no poema “Canção”, existe um eu que expressa o estado da alma: a lembrança, o sentimento de nostalgia, recordação de uma época de meninice, os embalos nos braços da mãe... Os embalos do berço a balançar... São lembranças, saudades, do abraço, do berço, da ação de abraçar, aninhar-se, um total “embarco” e “desembarco” do berço da infância. Então, a melodia que soa, a voz que sussurra, o ritmo que acaricia, nina, sustenta... “Doces saudades da infância!”.


Texto publicado na Revista Entrelinhas - Curso de Letras - Unisinos

 

 

 

 

 

domingo, 11 de outubro de 2020

Dias solenes - poema selecionado

 












O sol impregnou
cada canto e recanto
da casa rosada,
arquétipo de outrora
naquela Avenida Sem Nome.

Os dias, céleres,
respingam tédio
e monotonia
nas paredes insípidas...
... e teias esvoaçantes
colorem escadas,
degraus,
e pinturas sonolentas.

Janelas crestadas
e tristes
há tempo fecham
sonhos e ternuras...

E as flores amareladas,
embaladas em brisas
suadas,
acenam adeuses
na tarde que morre.


** Poema selecionada pela Revista D-Arte de agosto de 2021

sexta-feira, 9 de outubro de 2020

Infinito- Miniconto

 

 


 




 

 

 

Aspirei o perfume da flor. Lembrou-me teus cabelos.

Infinitos dias iguais. Hoje, sou duas em uma.

 

Lilico




 

            O orgulho do pai era mesmo Robertinho, o Lilico. O caçulinha parecia ser uma promessa, quase uma tênue esperança para o velho pai. Robertinho, com seis anos, era o craque da bola, jogava como ninguém! Nenhum dos outros cinco irmãos conseguia realizar as proezas que o Lilico fazia a cada jogo de futebol.

            Lembrava sempre a alegria e o carinho do pai ao se referir a Lilico, da emoção que havia na voz cansada ao gritar, à beira do campo: “Vai, Robertinho, lança a bola!!” O campo no qual jogavam era um terreno baldio e, muitas vezes, durante a partida ou quando o jogo estava “pegando fogo”, precisavam sair em disparada, porque o caminhão lá chegava e despejava toneladas de lixo fedorento... Apesar disso, os jogos continuavam e a plateia animada via desabrochar a cada dia um novo atleta da bola!

            Já a alma de Robertinho era tão bela quanto seus dribles no campo... Acontecera no dia em que ganhara algumas balas de um homem vestido de coelhinho, parado em frente a uma loja de doces. Levara logo as balas para os irmãos, no barraco. Chegou de mansinho, todo feliz, chamando por todos... O primeiro a aparecer foi o Robertinho... O tom amorenado da pele, os olhos escuros, brilhantes e o sorriso maroto encheram seu coração de uma súbita ternura pelo irmãozinho.

            - Que foi, Mano? Por que gritar tão alto?

            - Tome, são pra você. Guarde logo, porque as suas são bem mais. – a mão estendida mostrava as balas coloridas.

            Lilico alegrou-se, rapidamente agarrou as balas e escondeu-as no bolso do calção.

            - E pros outros, veio também? – a ansiedade no tom de voz de Lilico encheu seu coração de mais doçura pelo irmão pequeno.

            - Trouxe pra eles sim, não se preocupe!

            - Mas, então, daí as outras balas. Eu levo pros irmãos lá do outro lado da rua. Eles não ouviram o berro que você deu.

            - Certo. Pegue aqui. – quando colocou as balas na mão dele, foi que lembrou da mãe.

            - Droga, Lilico! Esqueci por completo da mãe! Não guardei nenhuma pra ela! O pai, coitado, tá bêbado, encontrei pelo caminho... Mas a mãe...

            Robertinho olhou com pena para as balas. Olhou tristemente para o irmão maior, depois meteu uma das mãos no bolso do calção e tirou de lá as balas que haviam sido dadas a ele há poucos minutos atrás.

            - Pegue, Mano! Eu não preciso delas! Uma bala ou nenhuma, que importa! Leve as minhas pra mãe, ela merece mais, né?

            Havia maturidade naquele gesto de abnegação; havia amor naqueles olhos negros. Positivamente, Lilico era muito especial! Aquela cara morena não pertencia a um garotinho tão novo.  Sentiu os olhos arderem ao recolher as balas que Robertinho lhe estendia.

            - Lilico... eu vou conseguir mais balas pra você. Prometo!!

            Ele sorriu, depois foi se afastando devagarinho:

            - Sei disso, Mano. Você é bom. Agora leve as balas pra mãe e não diga que eu fiquei sem nenhuma. Não fale nada!

            “As lágrimas banharam não apenas meu rosto, mas inundaram minha alma.”

             Lilico olhou-me, mais uma vez, sereno:

            - Um dia, Mano, haverá muitas balas. Pra todos.







quinta-feira, 8 de outubro de 2020

As rosas do meu jardim

 



 


No meu jardim,

colhi rosas

e espalhei pétalas

perfumadas

em torno

do teu

retrato...

As rosas do meu jardim

não falam

apenas exalam

a doçura

que roubaram

de ti...

Flores

 


Crianças – flores!

Livros – beija-flores!

Palavras – sementes...

espalham-se,

criam raízes,

espargem perfumes,

dão frutos...

Que este livro

possa alçar voo

e ser fonte de luz

para todos aqueles

que valorizam

e acreditam com fé

no poder criativo e ilimitado

de nossos meninos e meninas!

 

segunda-feira, 5 de outubro de 2020

Juventude

 



 



Juventude, palavra simples, traduz doçura de sonhos tecidos em fios de lembranças. Juventude não é um período da vida. Juventude é eternidade... Rugas no rosto nada significam. Anos de experiência adquiridos, pé e mãos cansados de longa caminhada... Juventude é o “hoje”, é o “agora”. Juventude está em nosso interior, entre um e outro sorriso, no olhar malicioso, no roçar de mãos, no aspirar o perfume da flor... Somos jovens na medida em que amamos, na medida em que nosso coração bate veloz, palpita. Juventude é enigma, mistério da alma.

            Jovem é aquele que luta, que chora, que tem esperança em um mundo melhor. Todos somos jovens enquanto não perdemos o nosso ideal de vida. Jovem é aquele que caminha pela estrada da vida levando nos olhos e nos lábios o sorriso da solidariedade. Jovem... juventude... palavras que se interligam, significando uma única e verdadeira mensagem: “Juventude deve ser a do espírito que fica, não a do corpo que perece.”

 

 

 

 

 

Partida (poema)

 



Caíram

 laranjas

no quintal...

e

o

ócio

  alargou minha alma...

  A partida é inevitável.

Ficaram

 as

 sementes

em

dias

de adeus...

 

domingo, 4 de outubro de 2020

Alianças

 





Desfiz laços
e marasmos
cor-de-rosa.
No sótão das
lembranças,
destruí teias
aladas
e inúteis.

Rodas gigantes,
anéis de Saturno,
princesas,
arabescos,
condessas,
brocados,
rapunzel de tranças...
Andanças da alma.
Alianças.

Meu poema em destaque

Poema selecionado "Brumas"

  Poema selecionado Revista Bsrbante abril 2024