Luzes de espera
Lanternas aladas
Solidão opaca
Ruas negras
Amores cinza
Ventos mudos
Fantasmas
e noites sem lua...
Passagens
e
travessias...
Luzes de espera
Lanternas aladas
Solidão opaca
Ruas negras
Amores cinza
Ventos mudos
Fantasmas
e noites sem lua...
Passagens
e
travessias...
os dias
da menina Rosaura
e espalharam minosas
lembranças
nos lençóis decorados
do ursinho Puff.
A infância,
pueril e cor-de-rosa,
beijou feito brisa
os cabelos encaracolados
e pintou flores
no vestido rendado
da garotinha.
O sol brincou
luz
e esconde-esconde
no riso
azul
da menina Rosaura.
CANÇÃO
“De borco no barco. (de bruços no berço...)
O braço é o barco. O barco é o berço. Abarco e abraço o berço e o barco. Com
desembaraço embarco e desembarco. De borco no barco. (de bruços no berço...)”.
Através da leitura e do trabalho com poemas, em nossas escolas, ofertamos
aos alunos a inigualável capacidade de sonhar: evocar situações já conhecidas,
“quebrar” com a rotina das mesmices da arte de educar, propor à criança
atividades que motivem a sair do “trivial” e abraçar o “irreal”...
Partindo dessa reflexão, tomamos como base o belíssimo e nostálgico poema
“Canção”, de Cecília Meireles. O título já é bastante sugestivo e logo nos
surgem imagens povoadas de lirismo e acalanto: nossas mães embalando-nos
suavemente nos braços, ninando-nos amorosamente; o breve e suave murmúrio de
seus lábios mansos, produzindo o som levíssimo de uma cantiga de ninar. A
poetisa relembra, em seu poema, a nostalgia, o sonho e a suavidade do ato de
embalar. Tudo isso vem justificado pelo ritmo cadenciado, embalador, com versos
que possuem acentos nas mesmas sílabas: “de
borco no barco (de bruços no berço)”.
Dessa forma, temos a presença da musicalidade, como se o embalo ganhasse
vida em cada verso. É como se ouvíssemos, sentíssemos em nossa alma o ritmo de
um embalo doce, meigo, quase oscilante... No jogo de palavras, brinca a
poetisa, fazendo dos braços imaginários o barco a navegar; fazendo do próprio
barco, o berço a balançar... Desse jogo interessante misturam-se e
entrelaçam-se palavras do universo conhecido do espírito infantil: braço/barco;
barco/berço. As imagens são fortes, vívidas, embaladas ao ritmo da canção.
Assim, no poema “Canção”, existe um eu
que expressa o estado da alma: a lembrança, o sentimento de nostalgia,
recordação de uma época de meninice, os embalos nos braços da mãe... Os embalos
do berço a balançar... São lembranças, saudades, do abraço, do berço, da ação
de abraçar, aninhar-se, um total “embarco” e “desembarco” do berço da infância.
Então, a melodia que soa, a voz que sussurra, o ritmo que acaricia, nina,
sustenta... “Doces saudades da infância!”.
Texto publicado na Revista Entrelinhas - Curso de Letras - Unisinos
O
orgulho do pai era mesmo Robertinho, o Lilico. O caçulinha parecia ser uma
promessa, quase uma tênue esperança para o velho pai. Robertinho, com seis
anos, era o craque da bola, jogava como ninguém! Nenhum dos outros cinco irmãos
conseguia realizar as proezas que o Lilico fazia a cada jogo de futebol.
Lembrava
sempre a alegria e o carinho do pai ao se referir a Lilico, da emoção que havia
na voz cansada ao gritar, à beira do campo: “Vai, Robertinho, lança a bola!!” O
campo no qual jogavam era um terreno baldio e, muitas vezes, durante a partida
ou quando o jogo estava “pegando fogo”, precisavam sair em disparada, porque o
caminhão lá chegava e despejava toneladas de lixo fedorento... Apesar disso, os
jogos continuavam e a plateia animada via desabrochar a cada dia um novo atleta
da bola!
Já
a alma de Robertinho era tão bela quanto seus dribles no campo... Acontecera no
dia em que ganhara algumas balas de um homem vestido de coelhinho, parado em
frente a uma loja de doces. Levara logo as balas para os irmãos, no barraco. Chegou
de mansinho, todo feliz, chamando por todos... O primeiro a aparecer foi o Robertinho...
O tom amorenado da pele, os olhos escuros, brilhantes e o sorriso maroto
encheram seu coração de uma súbita ternura pelo irmãozinho.
-
Que foi, Mano? Por que gritar tão alto?
-
Tome, são pra você. Guarde logo, porque as suas são bem mais. – a mão estendida
mostrava as balas coloridas.
Lilico
alegrou-se, rapidamente agarrou as balas e escondeu-as no bolso do calção.
-
E pros outros, veio também? – a ansiedade no tom de voz de Lilico encheu seu
coração de mais doçura pelo irmão pequeno.
-
Trouxe pra eles sim, não se preocupe!
-
Mas, então, daí as outras balas. Eu levo pros irmãos lá do outro lado da rua.
Eles não ouviram o berro que você deu.
-
Certo. Pegue aqui. – quando colocou as balas na mão dele, foi que lembrou da
mãe.
-
Droga, Lilico! Esqueci por completo da mãe! Não guardei nenhuma pra ela! O pai,
coitado, tá bêbado, encontrei pelo caminho... Mas a mãe...
Robertinho
olhou com pena para as balas. Olhou tristemente para o irmão maior, depois
meteu uma das mãos no bolso do calção e tirou de lá as balas que haviam sido
dadas a ele há poucos minutos atrás.
-
Pegue, Mano! Eu não preciso delas! Uma bala ou nenhuma, que importa! Leve as
minhas pra mãe, ela merece mais, né?
Havia
maturidade naquele gesto de abnegação; havia amor naqueles olhos negros.
Positivamente, Lilico era muito especial! Aquela cara morena não pertencia a um
garotinho tão novo. Sentiu os olhos
arderem ao recolher as balas que Robertinho lhe estendia.
-
Lilico... eu vou conseguir mais balas pra você. Prometo!!
Ele
sorriu, depois foi se afastando devagarinho:
-
Sei disso, Mano. Você é bom. Agora leve as balas pra mãe e não diga que eu
fiquei sem nenhuma. Não fale nada!
“As
lágrimas banharam não apenas meu rosto, mas inundaram minha alma.”
Lilico olhou-me, mais uma vez, sereno:
-
Um dia, Mano, haverá muitas balas. Pra todos.
No
meu jardim,
colhi
rosas
e
espalhei pétalas
perfumadas
em
torno
do
teu
retrato...
As
rosas do meu jardim
não
falam
apenas
exalam
a
doçura
que
roubaram
de
ti...
Crianças
– flores!
Livros
– beija-flores!
Palavras
– sementes...
espalham-se,
criam
raízes,
espargem
perfumes,
dão
frutos...
Que
este livro
possa
alçar voo
e
ser fonte de luz
para
todos aqueles
que
valorizam
e
acreditam com fé
no
poder criativo e ilimitado
de
nossos meninos e meninas!
Juventude, palavra simples, traduz doçura de sonhos tecidos em fios de
lembranças. Juventude não é um período da vida. Juventude é eternidade... Rugas
no rosto nada significam. Anos de experiência adquiridos, pé e mãos cansados de
longa caminhada... Juventude é o “hoje”, é o “agora”. Juventude está em nosso
interior, entre um e outro sorriso, no olhar malicioso, no roçar de mãos, no
aspirar o perfume da flor... Somos jovens na medida em que amamos, na medida em
que nosso coração bate veloz, palpita. Juventude é enigma, mistério da alma.
Jovem é aquele
que luta, que chora, que tem esperança em um mundo melhor. Todos somos jovens
enquanto não perdemos o nosso ideal de vida. Jovem é aquele que caminha pela
estrada da vida levando nos olhos e nos lábios o sorriso da solidariedade.
Jovem... juventude... palavras que se interligam, significando uma única e
verdadeira mensagem: “Juventude deve ser a do espírito que fica, não a do corpo
que perece.”
Caíram
laranjas
no
quintal...
e
o
ócio
alargou minha alma...
A partida é inevitável.
Ficaram
as
sementes
em
dias
de
adeus...
Poema selecionado Revista Bsrbante abril 2024