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quinta-feira, 24 de março de 2022

Toques de inverno



 Pés em desalinho,

cachecol colado ao corpo,

olhos de coração...

saí ao encontro do meu amor...

Na rua,

folhas secas,

acenavam adeuses...

e o céu estrelado em nuvens

acariciou-me com seus longos

braços azuis...

quarta-feira, 23 de março de 2022

Reflexo

 



Olhou em silêncio para o espelho...

e a superfície fria lhe devolveu a imagem

de um rosto com nuanças de brumas...

" O tom escaldante do seu adeus é apenas

o reflexo amargo, doído

da face oculta...

que o espelho esconde."


As palavras cinzas pulsaram 

na alma...


Já os olhos, pupilas de lágrimas,

transformaram-se em janelas... 

e foi por onde meu ser escapuliu...

Passado




O ônibus chegou e eu

havia deixado o passado para traás...

Na alma, retalhos empoeirados de

 uma existência costurada com linhas

farpadas...


Sentimetos nefastos e

sofrimentos algozes perderam-se...

no vazio longínquo...


Agora, o mundo era esperança azul

e as horas pincelavam metamorfoses...


O ônibus chegou e a vida

em pétalas abrira-se.

mais uma vez...

Noturno

 



O sol se pôs no horizonte...

e o céu da tardinha

salpicou-se de tons alaranjados...


O dia morria em aquarela...

para que a noite ressuscitasse

em tons de prata e lua...

"Estrelou o escurecer!"


Da janela, em olhos de brisa,

observei a chegada dos perfumes

e sons noturnos...


Coração tranquilo, sorrisos fartos,

esperanças florescendo em pétalas ao vento.

A espera me encharcou de paz...


E o entardecer me cobriu

com seu manto protetor...

terça-feira, 22 de março de 2022

Poema primaveril

 




Primavera chegou
e pintou bordados coloridos
nas telas do jardim.

Primavera na alma,
primavera na terra.

Estradas, parques e quintais
cheirando a mato verde
e o orvalho perfumado
beijando o sol nascente.

Há sorrisos de estrelas
e mãos dançantes...
Há vestidos rodados
e rodas-gigantes...

Primavera da esperança,
primavera das alianças.



terça-feira, 15 de março de 2022

Inocência - poema premiado

 





A menina brinca com uma boneca de pano

velha, suja, rasgada...

Os olhinhos da pobre menina brilham, 

suas mãozinhas magras procuram trançar o cabelo da bruxinha...

Ela espera. 

Os ternos lábios entreabertos, os dentinhos ainda alvos...

Talvez... esteja esperando por uma fada!

Inocência.

O mundo é cruel, não poupa ninguém...

"O que será da menininha que hoje brinca, embalada por doces sonhos?"

A vida levará a menina por outros rumos...  a pobreza é pungente... 

Enquanto isso, ela brinca.

Mesmo não sabendo que o mundo, as pessoas, muitas vezes,

transformam o lírio em lama!

Por certo, ela ainda não sabe disso... não agora!

Vamos imaginá-la sempre ali: sentadinha, os meigos olhos,

os ternos lábios, as mãos magras, a candura do ato

de trançar os cabelos da bruxinha...

Sim, vamos deixá-la ali, sentadinha,

na sua singela...  Inocência.

 

“Eu cato papel, mas não gosto. Então eu penso: faz de conta que eu estou sonhando.”                   (Carolina Maria de Jesus)


** poema selecionado pela Revista Inversos, em homenagem à Escritora Carolina Maria de Jesus, Feira de Santana, Bahia

Queimadas - poema premiado

 



Queimaram

as folhas de lavanda, o lilás virou breu...

fogo vermelho e assassino nas pétalas cheirosas

de hortelã...

Queimaram

os caules suculentos das árvores sonhadoras

das laranjeiras em flor...

Queimaram

os cactos, estrelas pontiagudas e... os espinhos mormacentos

sucumbiram à dor...

Queimaram

o capim verde, suado dos pés calejados, mapas de sonhos, lutas e esmeraldas...

Queimaram

o coração da mata, pulverizaram o voo alado

do mágico beija-flor...

- Ah! E o bem-te-vi!

Queimaram

as águas murmurantes, doces... dos riachos dançantes...

- Ah! Chora Iara, Mãe das Águas!

Queimaram

o lar da onça pintada, do macaquinho inocente, da cutia vigilante,

das formigas pensantes...

Queimaram nossa natureza!

Condenaram às lágrimas gerações inteiras...


** poema premiado na 2ª temporada Poemas da Terra Web tv

sexta-feira, 4 de março de 2022

Metamorfose líquida - conto

 


A chuva cobrara presença. Lavara as calçadas, os postes, as paredes, o guarda-noturno lá na esquina. No silêncio da manhã que desabrochara, nem mesmo o bem-te-vi nos alegrara com sua cantilena.

            O gato Frufru virara super-herói e desafiara as poças d’água, em miados perversos e rancorosos. O céu cinzento se tornara moldura perfeita para o dia nascente coroado de caos líquido.

            O Manacá florido também tivera sua cota de sofrimento: despencara em lágrimas saudosas. Restara o desfolhar.

            O jardim antes aquarela se ressentira com o aguaceiro. Chorara folhas arrancadas e mortas.

             Se a natureza penara e vertia gotas opacas, o mesmo se poderia dizer dos meus pés, metidos em chinelas aguadas.

            O cenário se dissolvera em prantos de chuva. Sobrara a desolação.

            O frio e a tromba d’água compuseram sua sonata. Amargor líquido. Amargura cinza. As nuvens não eram risonhas, eram de algodão puído e velho.

            Deus, se o beija-flor desse o ar de sua graça e aquecesse minha alma com seu voejar... E a primavera me brindasse com uma taça de champagne!

            O céu já não seria mais sujo e desbotado, tingir-se-ia de rosa.

 

 

Dias - miniconto selecionado no Festival Digital de Literatura







** Miniconto selecionado em São Caetano do Sul - SP

Meu poema em destaque

Poema selecionado "Brumas"

  Poema selecionado Revista Bsrbante abril 2024