Clemência
Rasga o véu da
minha solidão...
e afaga minha cabeça
ou, então,
embala-me
no teu regaço
para saciar a sede
de ternura...
que sinto
por ti,
- só por ti!
Paz
Tudo dorme...
No canto
da sala,
escondido,
trêmulo,
o gato cinza...
Sonolenta,
a tarde gélida
cai sobre o tapete
tantas vezes lavado
e batido
do último verão...
Almofadas
que não mais respiram
o frescor
dos dias
ensolarados...
e o fru-fru do tecido
torna-se lamento
d’alma...
Flores
desbotadas
decoram
paredes
ressequidas de
tinta...
e de amores...
A aragem
do inverno
pincela
a casa já
quase morta...
Apenas a quietude
respinga seus
míseros tentáculos
em uma paz eterna
e profunda...
Canção outonal
A
tarde
se
alonga
em
tons dourados...
Os
ossos
gemem
a
canção outonal...
Voa, anjo
Apagaram
teu sorriso
doce e angelical,
criança que eras...
Escureceram
o brilho
dos teus
olhos,
frágil botão
ainda molhado
pelo suave orvalho...
Macularam
teu corpo
e deixaram
sangrar
tua alma...
Porém,
neste lamaçal
fétido de horrores,
anjo, deram-te,
- sem nem mesmo adivinhar!!
sim, deram-te asas,
brancas, macias,
eternas...
para que tu, anjo,
pudesses, enfim,
voar...
- Voa, anjo!