Certo dia, um beija-flor sobrevoava as flores perfumadas de um jardim. Sentia-se feliz porque cumpria o seu trabalho e, com isso, engrandecia a obra do Mestre Criador. Ia de flor em flor, vagarosamente e, com delicadeza, sugava o néctar de cada uma delas. Era meigo e delicado na tarefa à qual se destinava. Porém, ao se aproximar de uma delas, encontra a bonita flor com as pétalas fechadas, impedindo-o de tocá-la. Espantado com a atitude da florzinha, indaga:
- Por que fecha as pétalas, ó linda flor? Estou aqui para cumprir o meu trabalho.
A garbosa flor, envaidecida, limitou-se a dizer:
- Não sou como as outras flores deste imenso jardim!
- Não entendo no que você se diferencia, bela florzinha. Por acaso não está aí, grudada no solo como todas as demais?
- Sim, estou.
- Não necessita de água, ar e do calor luminoso dos raios do Sol?
- Preciso!
- Então no que você é diferente das outras flores aqui presentes? Não a entendo!
A graciosa flor, meio encabulada, sorriu desajeitada e apenas murmurou:
- Porque... se não tivesse fechado as minhas pétalas hoje para você, jamais o garboso beija-flor teria prestado atenção nesta florzinha humilda que lhe fala...
... amanhã,
meu amado,
o dia espera
por você...
o sol será sua
acolhida
em braços
azuis...
as flores serão seu
remanso
em perfumes
azuis...
Agonia
Torturante realidade
Inconcebível!
O massacre de nossos peixes,
A morte de nosso rio!
Desumano
Incoerente
Imagem fria e cruel
Águas tingidas
de espanto... e luto...
Um eco de dor
repercutindo
no infinito
- quase um grito!
Um rio que agoniza,
sol que escurece,
brisa que chora,
pedras que gemem...
- um lamento!
Peixes que sucumbem
no adeus do momento...
... azul-cobalto
azul-fraco
azul
azulindo
azul-esperança
azul-aliança
azul-turquesa
azul
azulando
azul-fortuna
azul-alegria
azul-fantasia
azul-medo
azul-tristeza
azul-felicidade
... azul-flor...
... tormentos de águas
acalentadas
no âmago da alma...
- o poeta sofre!
... empoeiradas estradas,
teias tênues de outrora...
e o vazio existencial
das palavras...
- o poeta chora!
Mas... ah, poeta!
Chora também
a aurora...
em lágrimas cor-de-rosa...
- rosas em sangue!