A
chuva cobrara presença. Lavara as calçadas, os postes, as paredes, o
guarda-noturno lá na esquina. No silêncio da manhã que desabrochara, nem mesmo
o bem-te-vi nos alegrara com sua cantilena.
O gato Frufru virara super-herói e
desafiara as poças d’água, em miados perversos e rancorosos. O céu cinzento se
tornara moldura perfeita para o dia nascente coroado de caos líquido.
O Manacá florido também tivera sua
cota de sofrimento: despencara em lágrimas saudosas. Restara o desfolhar.
O jardim antes aquarela se
ressentira com o aguaceiro. Chorara folhas arrancadas e mortas.
Se a natureza penara e vertia gotas opacas, o
mesmo se poderia dizer dos meus pés, metidos em chinelas aguadas.
O cenário se dissolvera em prantos
de chuva. Sobrara a desolação.
O frio e a tromba d’água compuseram
sua sonata. Amargor líquido. Amargura cinza. As nuvens não eram risonhas, eram
de algodão puído e velho.
Deus, se o beija-flor desse o ar de
sua graça e aquecesse minha alma com seu voejar... E a primavera me brindasse
com uma taça de champagne!
O céu já não seria mais sujo e
desbotado, tingir-se-ia de rosa.
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