Ninita nasceu diferente. Pequeno ser
lançado no mundo, sem defesa nenhuma. Nasceu e já se sentiu só.
Ficou perdida em meio ao branco das
paredes... sem afago, sem carinho, sem sorriso de mãe, sem dedos de bem-querer.
Nasceu diferente a Ninita. Ninguém
quis dela saber. Boneca rejeitada. Nasceu e saboreou solidão.
Olhavam-na apenas, olhos secos de
sentimentos. Ela... pontinho minúsculo no gigantesco hospital.
Dias correndo no calendário,
folhinha voando... E Ninita perdida na imensidão morna das horas...
Mulheres de branco passando pelos
corredores, acenando indiferença.
Olhos abertos ao vazio, Ninita
sorria ao acaso. Rostinho redondo, expectativa de dor. Na retina, a suave
imagem de alguém, moça formosa, perfume de pétalas azuis...
Ninita, então, ri. Ri para o teto
cinza, ri para as paredes frias, ri para o piso de mármore. Testemunhas únicas
de sua emoção.
Os ponteiros do relógio marcam
compasso, “em ritmo sagrado no infinito tempo”...
E homens de branco, em marcha
silenciosa, cadenciada, por salas decoradas de tons gélidos de amor...
Ninita sonha. A moça ao seu lado
traz aconchego ao coração. Solidão morrendo
de vez!
O dia acorda sonolento. No quarto
despido, o corpo inerte, aragem da morte. No lençol claro, a mancha azul de
flores recém-colhidas...
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Imagem ilustrativa da Internet.
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