O
circo sempre me despertou magia...
Lembro,
certa vez, de me perder entre as arquibancadas de madeira do circo e,
apavorada, procurar desesperadamente por minha mãe. Eu era pequenina e o susto,
o medo e a ansiedade escureceram minha alma infantil neste dia. Senti-me
perdida, frágil, confusa... imersa no mundo colorido e desconhecido do faz de conta...
Foram
segundos, minutos – ou foram horas (?) dizia meu coração despedaçado pela
incerteza – e eu vaguei por entre a plateia animada, mal percebendo os gritos
alegres, os rostos eufóricos de meninos e meninas lambuzados de algodão doce...
Na minha ingenuidade dos cinco anos, pensei que jamais voltaria a reencontrar
mamãe, os irmãozinhos e vovô! Nem mesmo a graciosa bailarina me oferecendo sua
maçã do amor acalmara meu coração apertado, apertadinho que estava...
Quando
o espetáculo começou, eu estava sozinha, olhos úmidos, dentes rilhando, mãos
suadas, e dando-me conta do inevitável: perdera-me definitivamente da minha
família! E o circo parecia tão grande!
Enquanto
as gargalhadas explodiam sob a lona e as piruetas dos palhaços seduziam a
multidão, senti que as lágrimas banhavam sem piedade o meu rosto...
Transformei-me
em pedra de gelo, estátua de sal, surda ao meu redor, sem vibrar, sem aplaudir,
sem sorrir... então, fechei com força meus olhos e aguardei a morte chegar –
dramática que eu era aos cinco anos!
Afogada
nessa solidão, não notei que alguém puxava levemente meus cachos castanhos:
-
Triste menina, por que chora?
Estremeci
e abri os olhos bem devagarinho, receosa do que poderia acontecer comigo.
Então,
deparei-me com a cara engraçada, muito redonda e vermelha de um palhaço
serelepe. Engoli as lágrimas ligeiro e apenas murmurei, tímida:
-
Perdi minha mãe!
O
palhaço simpático fez olhar de espanto, torceu graciosamente os cantos da boca,
sorriu e... rodou na minha frente, todo animado! Da sua mão esquerda, surgiu um
ramalhete de flores brancas. Pensei que ele fosse mágico também!
-
Perdeu-se? Perdeu-se mesmo? Mas, olhe menina bonita, olhe, siga a direção que
aponta estas flores... veja, quem lá está... sim, veja... sua mamãe naquela
arquibancada, talvez muito preocupada com o seu neném! – e o palhaço quase
jogou as flores para o alto, em um entusiasmo que me contagiou.
Ele
tinha razão, lá estavam mamãe, irmãozinhos e vovô! Como não os enxergara antes?
Será que o medo a deixara tão cega que não conseguira vê-los?
Esqueci
de tudo nesta hora – tudo mesmo! - e corri para os braços de mamãe. Brilharam
mil luzinhas... e, de repente, o circo se transformara em um carrossel
encantado... Não lembrei nem mesmo do
amável palhaço que tão gentil me ajudara.
Depois
de algum tempo, já próximo ao término do espetáculo circense, entre risos e
muitas pipocas, é que percebi um ramalhete de flores brancas caídas aos meus
pés. Deus, eram as flores que o palhaço segurara em mãos anteriormente! Mas...
como foram parar perto dela??
Eu nunca soube de que modo o
buquê de flores brancas viera parar aos meus pés...
Eu nunca mais revi o alegre
e gentil palhaço daquela tarde, mesmo voltando ao circo inúmeras vezes naquele
verão...
E nunca mais me perdi em um
circo...
E essa é uma história real
da minha infância...
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