Em um certo jardim, repleto de flores
multicores e de variadas espécies que nem sequer podíamos imaginar surgiu uma
perfumada rosa amarela. Poderia, à primeira vista, parecer igual a qualquer
rosa amarela que conhecíamos. Mas aquela era diferente! Surgira numa manhã
primaveril e desabrochara no justo momento em que o sol surgia no horizonte.
Ao despertar, abriu, preguiçosa, suas
aveludadas e delicadas pétalas e suspirou feliz. Lançou um olhar na direção das
outras flores e viu-as ainda adormecidas. O silêncio do jardim era profundo e,
bem lá no fundo, ouvia-se o canto de um bem-te-vi. Muito alegre, a rosinha
apressou-se a acordar as demais companheiras animada e risonha:
- Hei, acordem! Olhem, eu cheguei! Hei, eu
cheguei!
Mas ninguém a notou, sequer despertaram do sono
reparador. Desolada, a rosinha resolveu esperar, pacientemente, que elas
acordassem. À medida que os minutos passavam, a rosa amarela impacientava-se.
Ah, como gostaria de contar às demais florzinhas a felicidade que sentia por
estar ali, bem no meinho delas! E em plena primavera! O sol, já não suave como
no início da manhã, revelou-se cada vez mais ardente e parecia zombar levemente
da agonia da rosa.
- Ih, ih, parece que você vai ter que aprender,
amiguinha, que, neste jardim, acorda-se muito tarde! E piscou-lhe de maneira
amistosa, meio maroto.
A rosinha sorriu, contente por conversar com
alguém, principalmente com alguém mais velho que ela e, talvez, bastante sábio
para lhe dar bons conselhos no novo lar.
- Ah, cheguei faz pouco tempo, Seu Brilhante! E
queria conversar com minhas novas amigas... O lugar de onde eu vim tinha muita,
mas muita escuridão e apenas os pequenos vermezinhos vinham brindar-me com suas
visitas. Eram, sim, bonzinhos, porém, eu queria mesmo era nascer para vida! – e
balançou as pétalas amarelas. Depois continuou, faceira:
- Aqui
em cima, Seu Brilhante, é só luz e cor a inundar a nossa vista! – curvou-se
quase com reverência em direção ao sol que a escutava com atenção.
A admiração do sol era evidente ao falar,
decidido, sim, a ajudá-la:
- Já sei o que posso fazer para despertar essas
preguiçosas dorminhocas! Vou lançar meus raios mais fortes e elas acordarão
ligeirinho!
E o sol estendeu seus raios em direção às
flores sonolentas, semelhante a braços poderosos. Um calor insuportável fez-se
sentir. Até a rosinha começou a suar abundantemente. Então, como por
encantamento, cada flor daquele jardim começou a abrir os olhos. Algumas se
espreguiçaram prazerosas, outras sufocaram um grande bocejo e, quanto às
restantes, despertaram sacudindo as folhas verdes e lustrosas... Puxa, um
quadro lindo de se ver! Um jardim que desperta! – pensou a rosinha, observando
tudo com sofreguidão. O quanto Seu Brilhante era inteligente!
O sol, sempre risonho, recolheu seus potentes
raios e falou, bem alto a todas as flores do jardim:
- Bonitas flores deste jardim: há uma nova
companheira por aqui. Ela é muito suave e infantil ainda. Aprendam também a
amá-la e ensinem a ela de que forma proteger-se de certos homens maus.
A rosinha comoveu-se com a gentileza dele e,
com voz trêmula, prometeu:
- Seu Brilhante, haverá um dia, talvez nem
muito demore que terei de partir. E, neste dia, implorarei ao Senhor da
Natureza que me conceda um sonho apenas. Pedirei para não voltar ao seio da
terra úmida, quero ser estrela, uma estrelinha a brilhar no firmamento e, muito
a contento, espiarei lá do alto os humanos, os animais, as flores a desabrochar
em cada jardim, em cada quintal deste nosso imenso Planeta!
O sol e as flores que a ouviam em silêncio
bateram palmas assim que ela parou de falar.
Uma singela margarida branca não conseguiu
deixar de comentar:
- Seja bem-vinda, ó suave e delicada rosa
amarela. É claro que, com sua bondade e doçura, conquistará nossa amizade! Já é
querida, eu sinto!
O sol vendo-a entregue a mãos tão
compreensivas, afastou-se, devagarinho, deixando por ali apenas seus raios mais
fraquinhos.
- Adeus, rosinha! Quem sabe, um dia, virá morar
pertinho de mim, junto a este céu tão azul e amigo! Adeus...
Foi-se e a rosinha começou a sentir sua falta,
havia simpatizado tanto com o Senhor Brilhante! Mas as flores coloridas e
viçosas, agora, já despertas, não deixaram que ela ficasse triste e quieta.
Puseram-se a falar, num coral todo animado, numa confusão de vozes que acabou
deixando tonta a rosinha. Eram tão boas elas, as meigas e simpáticas flores
daquele jardim!
Assim, passaram-se os dias, muito animados...
Os pássaros logo se tornaram fiéis companheiros da rosinha, que os conquistara
com sua docilidade. Quando Dona Chuva vinha banhar o jardim, com suas gotas
fresquinhas, a rosinha se encolhia, bem de mansinho e adormecia, embalada pelo
frescor das águas de Dona Chuva. A rosinha não esquecia nunca de agradecer pelo
banho gostoso ao Senhor da Natureza!
Então, um dia, depois de muito, muito tempo, o
jardim amanheceu entristecido. Olharam para o lugar onde vivia a rosinha e o
que avistaram trouxe um choro sentido. A frágil rosinha amarela se fora,
partira quietinha, tombara de lado, caindo sobre a grama verdinha. Havia ela
retornado a terra, a qual tão escura achava? Que fim levara a amiguinha
estimada? Por que tinha partido tão cedo daquele jardim, do lugar em que tão
amada era? O Senhor da Natureza iria mesmo transformá-la numa estrela?
Aguardaram, com ansiedade, o cair da noite. Não
dormiram, com os olhos grudados na abóbada estrelada. Enfim, depois de longos,
angustiosos momentos, foram surpreendidas com o aparecimento de uma luminosa
(maravilhosa!) estrela! A estrelinha parecia querer despencar lá do alto tal a
sua animação! As flores do jardim ficaram em dúvida: seria mesmo a rosinha?
Foi, neste instante, lá do alto, que a estrelinha sorriu e o sorriso animado,
pouco a pouco, mudou... em uma sonora gargalhada!! Elas, então, tiveram a
certeza: a rosinha era mesmo aquela linda estrelinha lá no céu noturno! O bom
Senhor da Natureza ouvira o pedido da florzinha e fizera dela uma brilhante e
sorridente estrela!
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